domingo, 13 de fevereiro de 2011

O tempo passa e os ditadores também.

Quando Hosni Mubarak assumiu o poder eu morava em Brasilia, trabalhava na CFP, estava mudando para Belo Horizonte e tinha só uma filha de 1 ano de idade. Tinha acabado de comprar uma Brasilia 0 km. John Lennon e Elis Regina eram vivos. O presidente do Brasil era Figueiredo. Nos EUA, Ronald Reagan. A União Soviética ainda duraria mais uma década antes de se dissolver. Faltavam oito anos para a queda do muro de Berlim. A China estava longe de ser uma potência econômica.

O Líbano enfrentava uma Guerra Civil. Ainda não havia ocorrido o massacre de Sabra e Chatila. Yasser Arafat vivia no exílio. A Primeira Intifada estava distante. Moradores de Gaza trabalhavam em Tel Aviv. Saddam Hussein era aliado dos Estados Unidos. Os americanos também patrocinavam radicais islâmicos para lutar contra soviéticos no Afeganistão. Barack Obama era um aluno tímido da Universidade Columbia, onde se formou em ciência política antes de ir estudar direito em Harvard.
Wael Ghonim, o jovem executivo do Google que encantou por seu carisma nos levantes do Cairo, havia acabado de nascer. Já o dono do Facebook, Mark Zuckerberg, ainda demoraria mais quatro anos. Não existia internet e nem celulares. A TV Globo era chamada de canal 5. O Estadão não circulava às segundas-feiras.
A economia brasileira era fechada. Nem mesmo tênis podiam ser importados. Os raros computadores eram uma tela preta com letras verdes. As companhias aéreas brasileiras eram a Varig, Cruzeiro, Vasp e Transbrasil. O craque da seleção era o Zico, que se tornaria campeão mundial pelo Flamengo. Ainda procurávamos telefones na lista. E fazíamos fila no verão para ligar da praia para casa em orelhões. Não existia o sambódromo do Rio. As camisas dos times ainda não possuíam patrocinador.
Strogonoff era prato chique, de festas. Sanduíches eram o misto quente, pão com mortadela e o cheese-salada. Não existia refrigerante dietl. Começavam a falar de uma doença chamada AIDS. As bandas de rock dos anos 1980 eram novidade.
Quando Mubarak assumiu o poder, havia ditadura em todo o Leste Europeu, na maior parte da América Latina e da África e em mais da metade dos países asiáticos. Mubarak é da era de Suharto, Ferdinando Marcos, Augusto Pinochet, Leopoldo Galtieri, Alfredo Stroessner, Hafez al Assad, Mobutu Sese Seko, Baby Doc. Mubarak é da época do Apartheid na África do Sul. Mubarak é passado. Esperamos apenas que o Egito avance para o futuro.
Naquela época, o mundo vivia uma nova crise do petróleo. Os EUA, em crise econômica, elevaram as taxas de juros e sufocou as economias endividadas da América Latina. A inflação disparou no Brasil, onde a ditadura militar se mostrava desgastada pelas pressões externas e internas pelo respeito aos direitos humanos, pela democratização, pela abertura do mercado. Muito similar ao que o Egito vive hoje. Há a esperança pela democratização exposta em protestos pacíficos no Oriente Médio. Tão intensos, uníssonos, que derrubaram o ditador. Mas, também em uma associação com o nosso passado no Brasil, a entrega do poder e do processo de transição democcrática à uma junta militar. Sabemos o que aconteceu em 1964.
Mas houve mudanças, talvez menos do devia e nem tanto na linha que a esquerda queria naquela época. Nas "diretas" houve o acidente de percurso com a morte de Tancredo e sobrou o Sarney que era parte do acordo da transição "pacifica". Mesmo assim estamos muito melhor do que a maioria dos países latino-americanos.

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